sábado, 24 de julho de 2010

Pós-modernos

Poucas coisas no mundo não têm reposição de fato. Um carro, um beijo, uma pessoa podem ser substituídos por outros exemplares do mesmo padrão a qualquer hora. Ora, reclamem com a pós-modernidade!, eu sou um mero ator-espectador, e a real é que gente chega e sai o tempo inteiro e quase nenhum laço, nenhum vínculo fica. Tudo é provisório, enlatado, feito pra você! e neste momento.

Não sei exatamente como aconteceu, mas, de uns tempos pra cá, parece que viver a vida intensamente no sofá aos domingos passou a ser o sonho universal e todo resto virou sonho de consumo. Atrás disso, as relações afetivas se tornaram convenientemente efêmeras, assim como os vínculos empregatícios deram lugar aos bicos.

Não que seja ruim, conhecer várias pessoas diferentes ao longo da vida, aliás tenho centenas de projetos de grandes amigos em sites de relacionamentos, como qualquer outro ser humano globalizado. Apenas tenho a impressão de que os bons amigos têm passado a cada dia mais depressa...

" - Olá! Como vai?
- Eu vou indo. E você, tudo bem?
- Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro. E você?
- Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo. Quem sabe?..."

Daí, a conversa que era pra ser só em Sinal Fechado, reproduz-se via email, msn, encontros casuais ou causais. Antigamente dava tempo de conhecer as pessoas, tomar uma cerveja, discutir política e filosofia para não filósofos, mas agora? Não tem discussão! Também, nem pudera, os botecos não têm música ambiente mais! Sempre aquele tutz-tutz pra que ninguém precise conversar, encarar, discutir, dialogar... apenas distrair.

Ainda se fosse só isso e os antidepressivos, que vêm por conseguinte, tudo bem. Mas, e as grandes causas, se até as convicções são passageiras? As motivações são tão duradouras quanto a cor de sapatos da estação. Até que alguém teve teve uma idéia brilhante e agora "A culpa é da relatividade!", que na verdade é invariância. "Ora, tudo é relativo, da mesma forma como tudo é tudo, nada é nada, e não há nada que se possa fazer a não ser viver a vida intensamente no sofá aos domingos". E esse argumento passa a ser condição necessária e suficiente para que continuemos indo, passando, sempre nesse gerúndio apressado dos operadores de telemarquetim (agora aportuguesado), enquanto Josés Saramagos morrem, mas para estes ainda não há reposição.

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